Primeiramente, é importante fazer uma distinção entre o uso clínico e o uso recreativo de hipnose. É comum que o primeiro contato com hipnose seja através de performances com profissionais do entretenimento, que fazem coisas extraordinárias e que parecem difícil de acreditar: fazem pessoas comerem cebolas inteiras, manterem olhos fechados até que elas façam alguma coisa para poder abrir e deixar o braço tão duro e resistente. Esses profissionais divertem a população e tem, ao meu ver, um papel importante para mostrar o quão poderoso é o efeito da sugestão hipnótica, das nossas mentes e das nossas capacidades. No entanto, essa prática não é a hipnose que possui efeito terapêutico.

   A hipnose clínica, por sua vez, é praticada há mais de cem anos e atualmente possuímos uma boa documentação sobre seus efeitos clínico. A prática hoje é baseado em evidência e possui recomendações de várias associações internacionais. Mas afinal, o que é hipnose?

   Primeiramente, hipnose não é um tipo de terapia, mas é um procedimento auxiliar, facilitador da terapia. Nesse sentido, a hipnose não é um fim em si mesmo, mas algo complementar ao tratamento. Hipnose se difere das práticas meditativas, incluindo o mindfulness, pois o objetivo não é o aprendizado do controle da atenção, mas do desenvolvimento e da resposta em uma ideia principal, como comer uma cebola e sentir o gosto de uma maçã ou manter os olhos fechados até a ocorrência de alguma outra coisa. E é nesse sentido que entra a ideia de sugestão hipnótica.  

   Toda hipnose é uma auto-hipnose, portanto, é o próprio indivíduo que se coloca em transe, apesar de poder ser auxiliado por outra pessoa. Assim, não há a possibilidade de se "ficar preso" no transe ou fazer coisas que fora do estado hipnótico não se faria, como cometer um assassinato.

   Os resultados clínicos do uso da hipnose são muito satisfatórios para diversas questões. Por um longo período ela passou negligenciada por profissionais da saúde por questões alheias à sua eficácia. É o tempo de seu retorno.